Pássaro preto

“Sonhei com um pássaro preto que supostamente estava morto e ressuscitou, Há um animalzinho desse tipo em casa de meus pais – não moro com eles – ainda vivo e creio que seja o do sonho seja o mesmo, que era muito querido pela minha irmã, que faleceu em 2012. No sonho, que se passou em minha casa no cômodo em que vive o passarinho real, minha mãe supostamente o teria enterrado envolto num pano embebido com o que seria leite. Ao passo que ele ressuscitou, creio que no sonho podemos ter pensado que foi devido ao leite embebido no pano. Ele apareceu, sobrevoando o local, próximo de sua gaiola. Tentei agarrá-lo algumas vezes, a quase conseguir – ele sempre escapava.

Tive esse sonho recentemente, num período que pode ser de grandes mudanças na minha vida profissional e pessoal e carrego nisso uma pessoa junto comigo, que sofrerá efeitos parecidos – inclusive com a possibilidade de vivermos mais perto dos meus familiares, sendo que os dela ficarão mais longe. Detalhe: sou psicanalista e atualmente não estou em análise. Tive minhas inferências sobre o sonho, mas gostaria de falar e ouvir algo além. Obrigado.”


Estamos pensando que o pássaro é a representação simbólica, ao mesmo tempo de sua irmã, ao mesmo tempo do luto pela morte, condensados numa única imagem.

O fato de tê-lo em casa de seus pais, faz referência às duas coisas ao mesmo tempo: sua irmã falecida e seus pais que vivem o luto pela perda.

Ao fazê-lo ressucitar, através do leite que sua mãe disponibiliza, faz referência clara à figura materna que tem o poder de vida e morte sobre a criação, mas também mostra uma dificuldade em lidar com a morte.

Talvez este sonho tenha sido feito por você agora, em função deste relacionamento que você nos conta que se inicia e promove uma mudança em você e em sua vida, inclusive porque retorna para morar próximo aos seus pais.

Pode ser que sua companheira tenha recebido uma significação simbólica de resgate, Assim, você ressuscita sua irmã em um sentido de trazer de volta a presença de alguém que  faz com que se lembre dela e dá esta presença de presente aos seus pais (ou quem sabe à mãe?). Desaparece a irmã, porém agora você coloca outra em seu lugar e tenta, magicamente, apagar a morte. Tentativa de voltar tudo ao que era antes. Quase consegue! O que acha?

 

1 comentário Adicione o seu

  1. Rafael disse:

    Olá, Carmem. Gostei da sua interpretação, principalmente quanto à questão da suplência da minha companheira em relação à minha irmã. Já havia pensado nisso na vida de vigília, mas não com uma implicação tão forte à problemática do luto ou da não aceitação da morte. Sofremos muito durante o período da doença, principalmente e essencialmente meus pais – que sei que sofrem muito ainda após tudo, apesar de tentarem dissimular um pouco. No meu caso, penso já ter elaborado o luto. Talvez, não ainda…
    Obrigado!

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